Ingressou o Piauí no século XIX de modo precário, tardio povoamento, dificuldades de comunicação com o Brasil e o mundo, exclusivo comércio de boi, ausência de agricultura, falta de escolas - fracas perspectivas, pois na centúria que se iniciava.
A primeira metade dos novos cem anos constitui objeto do estudo que expõe, apoiada sobre sérias fontes de conhecimento, a Professora Miridan Britto Knox, bem documentada, - uma documentação que ela confere, examina e de que retira a verdade, para a narrativa segura e a análise esclarecedora.
O período que ora se registra e interpreta tem características esmorecedoras: economia de subsistência, riquezas estagnadas, comércio e lavoura em imensas dificuldades, pecuária decadente, tristes condições educacionais. Não se pode ignorar, porém, que o Piauí, se envolveu em movimentos revolucionários - dois, sobretudo, a Independência e a Balaiada.
No alvorecer do século XIX, o ouro, o diamante e o açúcar declinavam no Brasil. O norte valia dois terços de atividade útil do território nacional. Se o comandante português Fidié mantivesse o Piauí fiel aos lusitanos, como queria D. João VI, Portugal dominaria a nossa fartura em gado e evitaria a vitória dos baianos, na luta pela emancipação politica, cortando-lhes o fornecimento de carne. Maranhão, Pará e terras piauienses formariam o Brasil Português, subordinado a Lisboa. Tal não se deu.
Fidié abandonou a sede do governo e seguiu com a tropa para Parnaíba, município em cuja sede se fez manifesto em favor da independência. Ausentes os soldados e respectivas armas. Manuel de Sousa Martins, futuro Visconde da Parnaíba, instituiu em Oeiras, então capital, administração por ela chefiada. Depois, em março, deu-se a sangrenta Batalha do Jenipapo no Piauí, que selou a unidade brasileira. A definitiva derrota dos exércitos portugueses se verificava poucos meses depois, em Caxias do Maranhão.
A guerra violenta dos balaios, no Maranhão e no Piauí, tem causas num choque de culturas. As origens próximas da luta estavam na prática perniciosa do recrutamento feito pelo Exército, obrigando-se que pobres caboclos entrassem para o serviço das armas, longe da terra e da família. As origens mais graves, entretanto, eram outras: as condições de ordem econômica geradoras de permanente angustia coletiva; a terra confiada a poucos, aos que representavam o regime político e que viviam de explorar o homem do interior, bem assim a fome e a estrutura social, o brasileiro esquecido e abandonado.
Mestre universitária estudiosa, pesquisadora de aplaudida probidade. Miridan Britto Knox reúne palpitantes e aplaudidos estudos de natureza social e politica, fiel aos ensinamentos históricos, - e assim contribui de modo louvável para relembrar o passado piauiense, que ela busca em fontes primárias de irrecusável valor.
Estamos providenciando uma segunda edição desses importantes estudos.
A. Tito Filho, 08/07/1988, Jornal O Dia.
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