ACONTECIMENTO

Na "Cronologia Histórica do Estado do Piauí", o pernambucano Francisco Augusto Pereira da Costa registra os acontecimentos mais interessantes ligados à escravatura negra no Piauí. Tive muita paciência em relacioná-los:

1848 - Assassinato do Coronel Raimundo Pereira da Silva, por alguns dos seus escravos. Era de Oeiras (PI).

1854 - A população escrava do Piauí chegava a quase 17 mil entre homens e mulheres.

1868 - A lei 629 autoriza o presidente da Província do Piauí a aplicar verba na alforria de escravinhas, desde que o seu proprietário quisesse e fosse a alforriada piauiense de um mês a dois anos de idade, filha de pais que não sofressem moléstia contagiosa. Para a liberdade dava-se preferência à de cor mais clara.

1870 - Em novembro, fundou-se em Teresina uma sociedade emancipadora. Era francamente abolicionista, iniciando atividades com a libertação de dez escravinhas.

1871 - O presidente da Província, Manuel do Rego Barros Sousa Leão, no relatório à Assembléia Legislativa, propôs que a escravidão fosse por lei paulatinamente extinta. Neste mesmo ano, a Assembléia nomeou comissão no Rio de Janeiro para, em nome da Província, congratular-se com o Ministério em virtude do projeto de reforma do elemento servil, convertida na lei de 28 de setembro. A Província do Piauí foi uma das primeiras que designou verba no orçamento para libertação dos escravos. Em virtude da lei acima citada, foram declarados libertos os escravos das fazendas nacionais do Piauí.

1872 - Concedidos salários do governo aos escravos libertos das fazendas nacionais do Piauí.

1880 - O numero de escravos da Província atingiu a mais de vinte e um mil, libertados 144. Os municípios que mais possuíam escravos eram Teresina, Jaicós, Valença, Barras e Oeiras. Os de menor número [eram] Príncipe Imperial (Crateús), Piripiri, Gurguéia, Pedro Segundo e Batalha.

1882 - População escrava do Piauí, até 30 de junho, atingia mais de dezessete mil. Haviam sido libertados mais de dois mil.

1883 - Neste ano o Piauí, em virtude de novos escravos recebidos, passou a ter mais de vinte e sete mil. Chegavam a quase oito mil os filhos livres de mulher escrava.

1884 - Instalou-se na vila de Barras uma sociedade abolicionista com o nome Libertadora Barrense. Muito entusiasmo na solenidade, em cujo decorrer se libertaram trinta e sete mulheres negras, alforriadas gratuitamente pelos respectivos senhores.

1886 - Alforriados quase duzentos escravos de 60 a 65 anos de idade. Na fala do presidente da Província à Assembléia Provincial declarou-se que o Piauí não tinha uma população escrava superior a dezessete mil.

1888 - A princesa Isabel, no Rio de Janeiro, dia 13 de maio, pelas 15:30 horas, assinou a Lei que a Assembléia Geral Império havia decretado. Só de noite a noticia chegou a Teresina pelo telégrafo. Os abolicionistas se tomaram de intensas alegrias e logo se fizeram passeatas pelas ruas, mas as comemorações populares e oficiais organizadas só tiveram inicio no dia seguinte, 14 de maio, prolongando-se por uma semana.

É o que reproduziremos em crônicas a partir de amanhã: as festas com que Teresina homenageou a libertação, de acordo com a chamada Lei Áurea.

A. Tito Filho, 10/05/1988, Jornal O Dia.