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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

TEMPO DE LEITURA

Nos meus brincos de infância, em Barras e no velho Marruás, hoje Porto, gente idosa, parentas velhas, caboclos da terra contavam estórias bonitas e medonhas, umas de arrepiar cabelo, outras de deleite e encantamento. Quando da adolescência em Teresina, meninos do meu tope se reuniam de noite nas calçadas do médico Benjamin Baptista, conceituado e culto, e cada qual narrava contos de macaco, de onça, de gigantes, de heróis e de bandidos - e um desses colegas era filho do dono da casa, Stanley, que pela dedicação aos livros e caráter bem formado, se tornaria das mais brilhantes figuras do Exercito Nacional. Momentos felizes e alegres, dava gosto vivê-los, e nunca se supunha que eles se fossem, deixando memórias inesquecíveis.

Aos dez anos de idade comecei a ler romances nacionais e portugueses. Li "A moreninha", de Macedo, e a obra completa de José de Alencar. Nessa época, Juca Feitosa, figura muito conhecida, rico comerciante, mantinha na capital piauiense loja de vária mercadoria, inclusive livros. Tive oportunidade de adquirir obras lusitanas, algumas de Camilo Castelo Branco e uma, bem me lembro, de exagerado romantismo - "Tristeza a Beira-Mar", de Pinheiro Machado. Vendia-se também a Coleção SIP, constituída, de romances "de aventura e de amor", que traziam, na capa, dois dedos em forma de V e por baixo do desenho a escritura MIL RÉIS, isto é, cada volume valia dois mil réis - e MIL RÉIS foi a unidade monetária vigorante até 1942. Entre muitos, apreciei "A patrulha da madrugada" e "Naná". Júlio Verne estava na moda. Tomava-me de entusiasmo com a sua ficção maravilhosa, que se incorporou à história contemporânea, com a visita do homem a lua. Li quase tudo admirável do francês. Da adolescência tão presente ainda no meu espírito foi a série de publicações TERRA-MAR-E-AR. Livros de tipos bons e tipos maus, em terras estranhas e distantes. Pratiquei leitura de Tarzan, o herói das selvas africanas criado por Edgar Rice Burroughs - e pratiquei-a de fio a pavio, como se houvesse ditame de um pacto governamental da era politica cujo inicio se deu em 1964.


A. Tito Filho, 13/12/1988, Jornal O Dia.

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