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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A GRANDEZA DO POETA JOVEM

José Newton de Freitas faleceu a 8 de fevereiro de 1940, com 19 anos - idade de sonhos e de esperanças de todos os jovens do mundo, mas nele temperada de experiência amadurecida na intensidade das lutas intelectuais. Aos dez anos escrevia em revistas e jornais, do Rio, de Fortaleza, de Teresina. Deixou "Deslumbrado", obra póstuma. Não se diga que Newton de Freitas desconheceu o sonho e a esperança. Conheceu-o. Cantou-os "em forma de mensagem, comunicação, de ternura", conforme ao depoimento do extraordinário Celso Barros Coelho.

Impressionante, nesse jovem, é a ausência da revolta: "Na sua poesia não se revela um revoltado. Era um descontente" - segundo Celso Barros. Não um descontente porque sofresse e sentisse que a vida o abandonava. A dor fê-lo pensar, o pensamento fê-lo sofrer - mas pensar no homem pobre da terra pobre do Nordeste, e sofrer com a evidencia de uma sociedade em erro, em crime com relação às formas "de crer, de trabalhar, de conviver".

Newton de Freitas não concebia uma sociedade de senhores e escravos. Queria um futuro cristão para as criaturas. Entendia o drama das massas, no seu tempo, num instante em que raras vozes a proclamavam, e protestavam. A universalidade da poesia que escreveu vale uma mensagem generosa e consciente de advertência. Quer um mundo humano, de oportunidades para todos, sem a humilhante distribuição dos homens em pobres e ricos. Um mundo sem déspotas crucificadores de direitos. Um mundo sem opressão, sem opressores, sem oprimidos. Um mundo em que os humanos não sejam classificados pela cor da pele.

Compreendeu José Newton de Freitas que os poetas não podem fugir da realidade porque "fugir a realidade é desertar da vida sem morrer - é a pior forma de viver". Morreu o poeta, mas não desertou da vida. Continuou imortal na grandeza da mensagem que deixou aos homens. Não descreu do Cristo maravilhoso e da sua pregação. Gritou contra a noite sem luz, contra a dor, mas acreditou no futuro com Deus, de quem pedia a volta, o remédio.

Já se disse que o homem ordinário pactua com as injustiças sociais, mas o artista não pode com elas pactuar. José Newton de Freitas foi artista admirável, genial, sim, se se admite que os homens de gênio "são os que elevam os seus conflitos até o sublime".


A. Tito Filho, 12/11/1988, Jornal O Dia. 

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