Anísio de Abreu integrou a comissão Especial (Comissão dos 21), encarregada de, na Câmara, apresentar projeto do Código Civil, organizado por Clóvis Bevilaqua. Coube-lhe a ingente tarefa de relatar a parte do Código referente ao casamento e à constituição da família: "O largo e erudito parecer que apresentou - diz Juvenal Pacheco ("O Código Civil na Câmara dos Deputados"), onde a correção da forma corre parelha com a profundeza com que explanou as múltiplas questões que o assunto abrangia, demonstrou, desde logo, o acerto da sua escolha para tão ingente trabalho, classificado entre os mais complexos dos apresentados a Comissão".
Colocou-se ao lado do divórcio, corajoso e eloqüente - "arrebatado, dinâmico, torrencial, em defesa dos conceitos e das idéias que estão em favor do divórcio. Por essa ocasião assombrou a quantos o ouviram. E arrebatou e eletrizou o auditório, mercê da dialética convincente e graças à eloqüência e ao poder da palavra - palavra que manejava fácil e que lhe saia dos lábios num misto de emoção, comoção, vibração e ardor" (Jemerias Abreu Pereira da Silva - "Anísio de Abreu").
Da oratória de Anísio sustentou Matias Olímpio: "Esta sua inclinação manifestou-se desde a sua juventude e não obstante afirmar sempre que jamais deixou de sofrer forte comoção quando iniciava os seus discursos o que só os pronunciava quando não podia adiar, a verdade é que ouvindo-os se tinha a sensação de assistir ao rompimento de uma represa que continha uma torrente. Nesses momentos, uma aureola parecia envolvê-lo. Dele poderemos afirmar o que Taine dizia de Cousin: que sua fisionomia, seus braços, seu corpo, tudo falava".
A Comissão dos 21 do Código Civil padeceu acerbos críticos de Rui Barbosa, o que levou Anísio de Abreu a ocupar várias vezes a tribuna para defendê-la: “Sua resposta a Rui - diz Jeremias Abreu Pereira da Silva -, como já se demonstrou em parte, foi longa, erudita, destemida e veemente. As criticas incupadas a ele próprio Anísio e a todos os membros da Comissão dos 21 foram todas respondidas com o destemor e a eloqüência com sempre se houve na tribuna".
Anísio de Abreu demonstrou, nas respostas, vastos conhecimentos filológicos.
Em "Frases e Notas" o eminente Cristino Castelo Branco retrata a poderosa inteligência de Anísio: "Homem de talento e de sérios estudos, falecido em fins de 1909 como governador do Piauí, foi Anísio de Abreu um dos maiores parlamentares brasileiros do seu tempo e o maior que já deu a terra piauiense. De 1894 a 1908, alguns anos na Câmara, e por último no Senado, debateu, com proficiência e elevação, os magnos problemas suscitados na época, produzindo a respeito deles verdadeiras monografias. Os seus discursos e seus pareceres magistrais, de quarenta, cinqüenta, sessenta páginas, sobre imigração e colonização, terras devolutas, estado de sítio, instrução superior, imposto de consumo, reforma judiciária, reforma eleitoral, divórcio, codificação civil e vários outros temas sociais e jurídicos, constituem obra considerável, que lhe perpetua o nome e honra o Piauí. Perlustrou, também, a beletrística, escrevendo poesias líricas, outras de fundo patriótico e abolicionista, como a célebre carta ao Conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira, em versos alexandrinos.
Feio que era, ficava quase bonito quando falava, disse dele um jornalista carioca".
A. Tito Filho, 14/07/1988, Jornal O Dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário