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domingo, 3 de outubro de 2010

CAÇADOR

Não se trata de revolucionário de 1964, pois assim fosse a gente deveria escrever CASSADOR. Trata-se de um dos mais famosos poetas do Piauí, de nome Teodoro de Carvalho e Silva Castelo Branco, que os piauienses muito desconhecem. Paupérrimo. Desde menino esteve em contato com a natureza, dedicando-se à caça nas noites silenciosas de espera dos animais espertos das matas de Barras - e essas caçadas constituem a fonte mais pura de sua poesia.

Combateu na guerra do Paraguai. Num poema, recordou as atribulações dos campos de batalha. Voltando à paisagem natal, casou-se, vieram os filhos, aumentaram as necessidades financeiras. Vendeu as cabeças de gado que pudera juntar. Deixou de matar animais e passou a fazer roças, a broca, a queimada, o plantio e a colheita.

Escreveu muitas poesias, organizadas pelo parente Hermínio Castelo Branco e publicadas em São Luís, no ano de 1884, com o titulo de HARPA DO CAÇADOR.

Disseram dele alguns que era analfabeto. O próprio poeta proclamava-se "tosco e grosseiro". A sua produção, porém, revela regular cultura. Davi Caldas consentia em que se Teodoro tivesse nascido noutro país seria nome laureado da literatura universal. Poesia viril. Celso Pinheiro Filho compara-o ao norte-americano Walt Whitman, cantando o desconforto. Os ianques continuam a homenagear a memória de Whitman, como cantor do pioneirismo. Rendem-lhe todos os preitos.

Teodoro não se interessou por assuntos políticos e questões sociais.

João Pinheiro, um dos fundadores da Academia Piauiense de Letras, assim se expressa sobre o poeta: "Dotado de vasta inteligência e empolgado pela natureza exuberante que o rodeava, cedo se dedicou ao cultivo da poesia e aos mais extremados exercícios venatórios que, a julgar por algumas de suas poesias, lhe proporcionaram encantadores momentos e lhe valeram o gracioso epíteto de POETA-CAÇADOR por que era geralmente conhecido".

Clodoaldo Freitas, outro dos fundadores da Academia Piauiense de Letras, confessava verdadeiro entusiasmo pelo enorme talento do poeta.

No discurso de posse, salientou o culto acadêmico Petrarca Rocha de Sá: "O que faltou a Teodoro de Carvalho em concepção e estilo, sobrou-lhe em talento e genialidade. Seu verso é livre, espontâneo, de rima fácil e sem artifícios, de ritmo fluente, mavioso e de grande sonoridade".

Os piauienses desconhecem a personalidade do grande poeta, um dos maiores cantores do sertão e das cousas sertanejas do Piauí.


A. Tito Filho, 10/03/1988, Jornal O Dia.

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